1. Início
  2. O Mundo Sombrio que Traz o Fim da Esperança (Novel)
  3. Parte 4
Próximo

I. O Sussurro das Árvores Mortas


 

O frio da noite cobria a floresta como um manto de luto. A bruma era espessa, quase sólida, se arrastando como dedos invisíveis pelo chão escuro da trilha esquecida. Yumi caminhava em silêncio, com os olhos atentos e a respiração curta. Ao seu lado, Akari segurava firme sua mão — seus cabelos vermelhos como sangue se destacavam no breu, enquanto seus olhos verdes pareciam absorver toda a escuridão ao redor. Nana vinha logo atrás, passos leves demais para se fazerem ouvir, os cabelos prateados pendendo como fios de luar mortos.

 

À frente, uma placa enferrujada balançava com o vento, rangendo como se tentasse falar.

“Fuligem – Habitantes: 100”, dizia, mas logo abaixo, alguém havia riscado com unhas ou garras:

“Agora, apenas os nomes permanecem.”

 

Yumi sentiu um arrepio subir pela espinha. A floresta à frente parecia vibrar com uma presença silenciosa, como se a própria terra sussurrasse memórias de dor. Nenhum som de animal, nenhum farfalhar comum. Apenas o lamento da madeira e o cheiro metálico no ar.

 

— Essa floresta… — murmurou Yumi, — não parece só abandonada. Parece… vazia de tempo.

 

— Porque ela é, — respondeu Nana, com uma voz tão fria quanto o vento que cortava a pele. — Aqui, o tempo parou quando a traição aconteceu. Quando a promessa foi quebrada.

 

Yumi não perguntou. Não conseguia. Algo dentro dela sabia que qualquer pergunta traria respostas que talvez não estivesse pronta para ouvir. Mas Akari, de olhos fixos no caminho, falou:

 

— A floresta é o primeiro lugar onde o sacrifício foi feito. O solo aqui é a carne. As árvores, ossos. E o ar… o suspiro daquilo que foi despertado.

 

As três atravessaram os portões retorcidos de ferro que levavam à vila de Fuligem. Era como entrar em uma pintura interrompida — casas inteiras, preservadas como se a vida tivesse sido arrancada em um único instante. Bonecas largadas no chão. Talheres sobre mesas. O som de um sino distante, ecoando de algum lugar no vazio.

 

Mas não havia uma alma viva. Apenas corpos pequenos demais, frágeis demais. Crianças.

 

Yumi cobriu o rosto ao ver. Akari a segurou, firme. — Você precisa ver.

 

Ao olhar novamente, a dor veio como uma lâmina no estômago. Yumi caiu de joelhos e vomitou… mas o que saiu não era comum. Fios de cabelo, longos, negros, saíam como serpentes do seu interior. E em meio ao horror, algo duro: uma carta, dobrada com cuidado. Ela a puxou com mãos trêmulas.

 

Mas antes que pudesse abri-la, uma sombra branca cruzou entre os escombros. Nana se adiantou e apontou: — A casa da professora… é ali. É onde tudo começou.

 

— E onde tudo terminou também, — completou Akari, com um sorriso sinistro demais para um rosto tão jovem.

 

Yumi se levantou, trêmula, e encarou o horizonte da floresta adormecida. Ela sabia.

Ali… entre as árvores mortas, estava a próxima resposta.

Ali… o sacrifício ainda pulsava.


II. Os Que Nunca Foram Libertados

 

O vento parecia mais cortante enquanto avançavam pela trilha que se afunilava em meio às árvores retorcidas. Os galhos estalavam acima, como se algo se movesse de árvore em árvore, observando. Akari parou de andar subitamente.

 

— Estamos perto. — disse, com a voz baixa, quase um sussurro. — Mas… tem algo que não deveria estar aqui.

 

Yumi olhou para onde a menina apontava. Um pequeno casebre de madeira, quase engolido pela vegetação, erguia-se torto entre os troncos antigos. Musgos cresciam sobre as paredes, janelas estavam tapadas por panos sujos e o telhado parecia prestes a ruir. Um cheiro forte de decomposição e ferrugem tomava o ar — tão denso que parecia sólido.

 

— Isso… — Nana disse, séria pela primeira vez — não era pra estar aqui.

 

Mesmo assim, foram até a cabana. Yumi empurrou a porta velha, que se abriu com um rangido doloroso. O que viu a fez recuar, mas não conseguiu desviar o olhar.

 

Lá dentro, o tempo havia se rendido ao horror.

 

Crianças… dezenas delas, amarradas com cordas ásperas e raízes secas, presas às paredes, penduradas por ganchos, deitadas no chão em posturas impossíveis. Algumas estavam imóveis, claramente mortas há muito tempo. Outras… ainda respiravam. Olhos fundos, ossos saltando da pele, bocas balbuciando sons que se misturavam entre súplicas e palavras em idiomas antigos e esquecidos.

 

— S…socorro… em-nu… sira’kalh… por favor… dor… não…

 

A mistura de vozes e línguas fazia o chão vibrar. Havia símbolos riscados nas paredes, feitos com sangue seco e um líquido escuro que parecia se mover sutilmente à luz fraca. Em uma mesa no centro, pedaços de corpos e objetos de origem incerta estavam organizados como oferendas. Alguns pareciam de crianças. Outros, de algo que já não era mais humano.

 

Yumi cambaleou para trás. O coração acelerava, o peito pesava. As vozes se intensificavam dentro da sua cabeça, como se todas aquelas almas gritassem por socorro ao mesmo tempo.

 

Uma das crianças presas se virou para ela, os olhos cobertos por uma fina camada de musgo e lágrimas.

 

— Você… é a chave… mas está atrasada… ele acordou… ele… acordou…

 

Yumi soltou um grito surdo. Seus olhos se reviraram. O mundo girou. E então, desmaiou.

 

Ela caiu no chão de terra da cabana, os ecos dos sussurros invadindo seus sonhos, afundando-a em um abismo de memórias distorcidas. Akari e Nana correram até ela.

 

— Vamos tirar ela daqui, — disse Akari, olhando com desprezo para o interior da cabana.

 

— Isso foi um aviso, — completou Nana, com os olhos vermelhos brilhando. — O sacrifício… não quer ser descoberto.

 

E então, com cuidado e silêncio, arrastaram Yumi para fora da cabana maldita, deixando para trás os lamentos que ecoariam entre as árvores por toda a eternidade.


II. Os Que Nunca Foram Libertados (continuação)

 

A respiração de Yumi voltou aos poucos, ofegante, como se emergisse de um afogamento profundo. Abriu os olhos devagar, sentindo o cheiro úmido e apodrecido da cabana ainda preso às narinas. Akari e Nana estavam ao lado dela, de olhos atentos.

 

— Você desmaiou. — disse Akari, com expressão preocupada.

 

— Não deveria ter entrado sozinha. — completou Nana, olhando de relance para a porta da cabana que continuava entreaberta.

 

Yumi sentou-se com dificuldade. As imagens do interior ainda dançavam em sua mente como alucinações. Mas ela sabia… tudo era real.

 

— Eu… preciso falar com elas. As crianças. — murmurou, levantando-se.

 

— Elas não confiam em adultos. — disse Akari, a voz fria como o vento da floresta.

 

— Mesmo que você tenha sido usada… para elas, você ainda parece uma delas. — completou Nana.

 

Mas Yumi insistiu. Com passos lentos, voltou à entrada da cabana. Ao abrir a porta, o cheiro pesado a envolveu novamente, e os olhos das crianças se voltaram para ela.

 

Mas algo estava diferente.

 

Os olhos… não eram normais.

 

Agora, observando de perto, Yumi notou com horror que muitos daqueles olhos não pertenciam a elas. Eram olhos artificiais, escuros como carvão envenenado, vermelhos como sangue coagulado. Olhos inseridos à força, quase costurados com fios finos e escuros. Os globos oculares não piscavam. Pareciam observar, analisar, absorver.

 

— O que… fizeram com vocês? — Yumi sussurrou, a mão tremendo.

 

Uma das crianças sentada no canto, ainda com vida, murmurou algo entre os dentes costurados:

 

— Eles… arrancaram nossos olhos… nos deram esses… pra enxergar o que eles queriam… não o que existia…

 

Yumi cambaleou para trás. O chão parecia instável. Ela sentia as batidas do próprio coração ecoando como tambores de guerra dentro do peito.

 

Akari se aproximou rapidamente e segurou seu braço.

 

— Vá lá pra fora. Você vai desmoronar de novo.

 

— Mas…


II. Os Que Nunca Foram Libertados (continuação)

 

A respiração de Yumi voltou aos poucos, ofegante, como se emergisse de um afogamento profundo. Abriu os olhos devagar, sentindo o cheiro úmido e apodrecido da cabana ainda preso às narinas. Akari e Nana estavam ao lado dela, de olhos atentos.

 

— Você desmaiou. — disse Akari, com expressão preocupada.

 

— Não deveria ter entrado sozinha. — completou Nana, olhando de relance para a porta da cabana que continuava entreaberta.

 

Yumi sentou-se com dificuldade. As imagens do interior ainda dançavam em sua mente como alucinações. Mas ela sabia… tudo era real.

 

— Eu… preciso falar com elas. As crianças. — murmurou, levantando-se.

 

— Elas não confiam em adultos. — disse Akari, a voz fria como o vento da floresta.

 

— Mesmo que você tenha sido usada… para elas, você ainda parece uma delas. — completou Nana.

 

Mas Yumi insistiu. Com passos lentos, voltou à entrada da cabana. Ao abrir a porta, o cheiro pesado a envolveu novamente, e os olhos das crianças se voltaram para ela.

 

Mas algo estava diferente.

 

Os olhos… não eram normais.

 

Agora, observando de perto, Yumi notou com horror que muitos daqueles olhos não pertenciam a elas. Eram olhos artificiais, escuros como carvão envenenado, vermelhos como sangue coagulado. Olhos inseridos à força, quase costurados com fios finos e escuros. Os globos oculares não piscavam. Pareciam observar, analisar, absorver.

 

— O que… fizeram com vocês? — Yumi sussurrou, a mão tremendo.

 

Uma das crianças sentada no canto, ainda com vida, murmurou algo entre os dentes costurados:

 

— Eles… arrancaram nossos olhos… nos deram esses… pra enxergar o que eles queriam… não o que existia…

 

Yumi cambaleou para trás. O chão parecia instável. Ela sentia as batidas do próprio coração ecoando como tambores de guerra dentro do peito.

 

Akari se aproximou rapidamente e segurou seu braço.

 

— Vá lá pra fora. Você vai desmoronar de novo.

 

— Mas…

 

— Deixe isso conosco. Elas confiam na gente. Somos como elas. Fomos parte… disso.

 

Yumi relutou, mas deu um passo para trás. Saiu da cabana e respirou o ar gélido da floresta. Seu estômago revirava. Estava perto demais da verdade… e a verdade estava longe de ser suportável.

 

Enquanto ela se recuperava do lado de fora, Akari e Nana entraram.

 

Dentro da cabana, as crianças as receberam com olhares menos tensos. Sinais secretos, sussurros trocados, códigos que só elas entendiam.

 

— Vocês ainda estão vivas, — disse uma das crianças presas, — isso é bom.

 

— Ela vai aguentar? — perguntou outra, com o olhar fixo na porta de onde Yumi acabara de sair.

 

— Não sei. — respondeu Nana, cruzando os braços. — Mas se ela não aguentar… tudo termina aqui.

 

— Contem o que sabem. Ela precisa entender o que está por vir. E sobre… ele. — disse Akari, baixando a voz.

 

As crianças se entreolharam. Um silêncio profundo caiu sobre a cabana. Algumas começaram a chorar em silêncio. Outras fecharam os olhos de forma sinistra.

 

— Então ouçam. — disse uma delas. — O que vamos contar… é o início de algo que nem mesmo os adultos que nos criaram tiveram coragem de enfrentar…


III. A Ponte da Morte

 

A floresta parecia mais viva à medida que caminhavam — viva de forma errada. Galhos se retorciam mesmo sem vento, folhas caíam sem fazer som, e as árvores pareciam observar com olhos invisíveis.

 

Yumi seguia no centro, ladeada por Akari e Nana. O silêncio entre elas era quebrado apenas por passos sobre folhas secas e a respiração contida.

 

— Vocês duas… — Yumi finalmente quebrou o silêncio. — Como… sobreviveram a tudo isso?

 

Akari, com seus cabelos vermelhos balançando suavemente, respondeu sem olhar para ela:

 

— Não sobrevivemos. Não do jeito normal. Fomos deixadas para trás… por escolha ou por erro, não sabemos.

 

— Nós escapamos — completou Nana, os olhos prateados brilhando com um reflexo estranho. — Mas parte de nós ficou naquele lugar. As vozes… ainda falam quando dormimos.

 

Yumi apertou o passo. Passaram por casas antigas, completamente devoradas pelo tempo. Portas escancaradas, móveis quebrados, roupas infantis rasgadas ainda penduradas em varais enferrujados. Bonecas sem olhos. Algumas paredes tinham símbolos riscados com sangue seco, parecendo proteger… ou selar algo.

 

— Essa vila aqui… — Yumi parou, olhando ao redor. — Eu… lembro disso. Aiko me trouxe aqui uma vez. Antes de tudo…

 

— Ela conhecia. — disse Akari. — Era aqui que eles faziam a seleção. Onde tudo começava.

 

Continuaram andando até que, à frente, surgiu uma ponte estreita e antiga. De pedra escura e musgo pútrido. Gravada nela, quase apagada pelo tempo, havia uma inscrição:

 

“Caminho dos Que Não Voltam”

 

Mas Yumi enxergou de outro jeito. Em sua mente, as palavras apareciam em vermelho como fogo:

 

A Ponte da Morte

 

— Temos que atravessar. — disse Nana, firme. — Uma vez cruzada, não existe volta.

 

Yumi engoliu seco. Não havia mais estrada além dali. A floresta se fechava em si mesma. Atrás da ponte, uma trilha de pedras desaparecia entre raízes e névoa.

 

Ao cruzarem, a ponte pareceu ranger com o peso dos pecados. Um estalo ecoou às costas de Yumi. Quando olhou para trás… a ponte já não estava mais ali. Só o abismo.

 

— Não se vire mais. — disse Akari.

 

Continuaram. Subiram por entre árvores retorcidas até que o mato se abriu revelando uma nova vila. Ou o que restava dela.

 

Ruínas. Tempo petrificado. Casas desabadas, estilhaços de janelas, um sino enferrujado pendendo torto de uma torre semi-destruída. Era como se aquela vila tivesse sido engolida por séculos em um único dia.

 

Yumi caiu de joelhos, cansada.

 

— Vamos descansar aqui um pouco. — disse, tirando a mochila. — Tenho um pouco de comida.

 

As crianças sentaram perto. Enquanto comiam em silêncio, o som do vento cortava o vilarejo abandonado como uma voz distante. As sombras pareciam se mover nas janelas vazias. Yumi tentava não olhar.

 

Nana foi a primeira a falar, enquanto mordia lentamente uma fruta seca:

 

— Esse lugar era chamado de Kuragami. A vila oculta no nevoeiro. Era onde ficavam os últimos arquivos… os mais antigos. Aqueles que até os médicos tinham medo de ler.

 

— Talvez ainda esteja algo ali. — disse Akari. — Se o vento não levou tudo.

 

Yumi fechou os olhos. Precisava de um minuto. Só um.

 

Mas atrás das pálpebras, ela viu a ponte de novo. E o abismo chamando seu nome.


IV. Nova Rota – A Floresta que Lembra

 

Enquanto descansavam na vila abandonada, o tempo pareceu se quebrar ao redor delas.

 

O céu, antes acinzentado, assumiu tons púrpura e azul escuro. As árvores começaram a sussurrar em idiomas mortos, o chão pulsava como carne viva. Quando Yumi se levantou, tudo estava… diferente.

 

— Akari? Nana? — olhou ao redor.

 

As crianças não estavam mais ali. O vilarejo, embora igual em estrutura, parecia mais novo — como se tivesse voltado no tempo. As casas não estavam destruídas, mas cheias de pessoas. Porém, todos andavam com as cabeças abaixadas, cobertas por véus, e nenhuma criança era vista.

 

Yumi se aproximou de uma janela e viu… ela mesma. Mas era diferente. Estava com um avental branco, rodeada por crianças em mesas de pedra, cada uma com marcas e tubos no corpo. Ela estava sorrindo. Um sorriso frio, como o de um médico entorpecido.

 

— O que é isso…? — Yumi recuou.

 

Uma mão pequena segurou seu pulso.

 

— Não se perca. — disse uma voz conhecida. Era Nana.

 

Mas agora ela tinha cabelos mais longos, os olhos ainda vermelhos, e parecia mais velha — ou talvez… mais consciente.

 

— A floresta está testando você. Ela lembra de todos que passaram por ela. E agora quer ver quem você realmente é.

 

— Onde está Akari?

 

— Ela está presa em uma memória… de quando foi levada da escola para o laboratório.

 

Yumi apertou os olhos. Tudo tremulava.

 

— Como saímos disso?

 

Nana sorriu, mas não era um sorriso comum. Era quase… uma chave.

 

— Não lutando contra. Mas aceitando. Você precisa entrar nas memórias da floresta, ver o que ela viu. Só assim entenderá o que é o sacrifício. E por que foi você a escolhida.

 

Nesse momento, o chão desabou.

 

Yumi caiu… em silêncio.

 

E acordou dentro de uma sala com paredes de carne, respirando.

 

Diante dela, uma porta. Acima dela, gravado:

 

“Aqui jaz a verdade que ninguém suportou.”

 

E atrás dela, a voz de Akari, gritando.

 

Yumi segurou firme sua arma — mesmo sabendo que talvez, ali, ela nada adiantasse.


V. O Hospital de Areia e o Segredo de Miyu

 

A floresta parecia silenciar em respeito à nova presença.

 

Yumi observava o hospital diante de si — antigo, mas diferente. Ao invés de neve cobrindo o chão, havia areia pálida, seca como cinzas, espalhada até onde os olhos podiam alcançar. As pegadas na areia não se desfaziam como na neve. Permaneciam, estáticas, frescas.

 

— Isso não faz sentido… — murmurou Yumi, apertando os punhos.

 

De repente, uma silhueta feminina apareceu ao longe, saindo de uma das alas laterais. Caminhava com pressa. Os cabelos soltos voavam como serpentes negras. Quando avistou as três, parou. Seus olhos encontraram os de Yumi. Por um instante, o tempo congelou.

 

A mulher então virou-se, derrubando algo no chão, e correu para dentro do prédio, trancando a porta com força. Um crachá caiu na areia.

 

Yumi se aproximou e o recolheu.

 

MIYU HIROTO SHIMAWARI

Departamento Médico-Científico Avançado

Classificação: Especial – Setor D.

 

Ao ver o nome, Nana parou de respirar por um instante.

 

— Miyu… — ela disse com voz quase infantil — …ela me viu na escola. Mas antes, passou pela floresta. Ela… ela estava com sua irmã, Yumi.

 

Yumi virou-se bruscamente.

 

— O quê?

 

— Era ela. Tenho certeza. A irmã que você procura… Aiko… ela estava com Miyu. Eu a vi. Linda, como uma… deusa egípcia. Uma presença que fazia todos ficarem em silêncio.

 

Yumi estreitou os olhos, confusa e inquieta.

 

— Mas… Aiko foi sacrificada. Eu vi…

 

— Não foi. — respondeu Nana com segurança assustadora. — Ela foi a primeira chave, mas rejeitada. Por causa de uma traição. Como você também foi.

 

— Mas eu fui aceita no ritual…

 

— Foi o que te fizeram pensar — disse Akari. — A lembrança foi colocada em você. Mas quem despertou a verdadeira entidade foi o repórter… quando libertou algo do poço.

 

O peso das palavras das crianças deixava o ar mais denso.

 

Yumi olhou de volta para o hospital.

 

— Então… essa doutora… ela a salvou?

 

Nana respondeu com um raro sorriso calmo.

 

— Ela destruiu os planos do doutor. Mas foi caçada por isso. Levou Aiko para longe. Talvez aqui… talvez mais fundo. Mas agora ela nos viu… e fugiu.

 

Yumi abaixou sua arma, pensativa. Algo em seu coração se apertava. Pela primeira vez, desde o começo de tudo… esperança.

 

— Será que posso confiar nela? Será que ela é mesmo aliada?

 

— Isso… você precisa descobrir sozinha.

 

Sem pensar mais, Yumi correu em direção à porta do hospital. Seus passos afundavam na areia.

 

Ela empurrou a porta — que estranhamente estava aberta, como se a esperasse. O interior estava escuro, cheirando a produtos químicos antigos e ferrugem. Um silêncio profundo dominava.

 

Ela entrou, subindo um corredor. O som de suas botas ecoava por todo o local… até que parou subitamente.

 

Diante de si, numa ala fechada por vidro, viu algo.

 

Yumi tapou a boca, mas foi tarde demais.

 

Ela viu.

 

E não deveria ter visto.

 

Corpos pendurados, como em exposição, crianças com os olhos substituídos por espelhos, envoltos por uma substância branca que escorria como cera derretida.

 

Pelas janelas altas, o céu tinha mudado de cor.

 

A floresta havia entrado com ela.

 

E o hospital… não era apenas um lugar. Era uma memória viva.

 

Próximo

Comentários sobre o capítulo "Parte 4"

DISCUSSÃO SOBRE MANGÁS

Deixe um comentário Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*

*

  • DISCORD
  • DMCA

© 2025 Madara Inc. Todos os direitos reservados

Fazer login

Perdeu sua senha?

← Voltar paraKamitoon

Registrar-se

Registre-se neste site.

Fazer login | Perdeu sua senha?

← Voltar paraKamitoon

Perdeu sua senha?

Digite seu nome de usuário ou endereço de e-mail. Você receberá um link para criar uma nova senha por e-mail.

← Voltar paraKamitoon