O Mundo Sombrio que Traz o Fim da Esperança – Parte 3: Resumo
Na terceira parte da jornada, a névoa de Yukigakure torna-se mais densa, e o tempo começa a se quebrar como vidro frágil. A realidade perde sua forma, revelando fragmentos de um passado enterrado — ou talvez distorcido.
Yumi desperta novamente, sozinha, no hospital abandonado, com a estranha marca em seu corpo pulsando como um coração independente. Aiko e Renjiro desapareceram, e o hospital começa a se transformar. Portas que antes não existiam agora se abrem. Vozes que não são humanas ecoam pelos corredores.
Guiada por uma força invisível, Yumi encontra um santuário subterrâneo oculto sob o hospital. Lá, repousa o Guardião, uma entidade colossalde olhos múltiplos, aprisionada há séculos por correntes de ferro vivo. Ele é um ser que nunca deveria acordar… mas a presença de Yumi, e sua marca, o desperta.
Ele sussurra sobre chaves, lapsos temporais, e memórias sacrificadas. E menciona um nome com reverência distorcida: Sayuri.
Enquanto isso, Renjiro e Aiko enfrentam seus próprios horrores. Aiko, como a primeira chave, começa a sentir os efeitos do vírus atmosférico, mas de maneira simbólica — com lapsos de personalidade, visões e tremores temporais.
A revelação mais aterradora aparece diante de Yumi: uma imagem de Sayuri entregando Aiko como oferenda… com um sorriso no rosto.
O Guardião murmura um aviso, um lamento e uma ameaça.
I. Ecos no Hospital Submerso
A porta de ferro se fechou atrás de Yumi com um estalo seco. A sala à sua frente estava coberta de poeira e mofo, mas ainda assim exalava uma sensação gélida… como se o tempo ali tivesse parado. Era o primeiro andar, e ainda parecia com um hospital comum: corredores brancos, equipamentos médicos quebrados, papéis manchados de sangue seco e uma cadeira de rodas que girava lentamente, sem que ninguém a tocasse.
Yumi apertou os dedos em volta da lanterna. O silêncio era tão opressor que ela podia ouvir os batimentos de seu próprio coração. Não havia mais sinais de Renjiro. A última coisa que vira dele foi sua expressão pálida, olhando para o chão se abrindo sob seus pés.
Ela respirou fundo e avançou. Havia dez andares abaixo da superfície — era o que o mapa rasgado indicava. Mas algo chamava sua atenção ali: no fim do primeiro andar, uma porta estava entreaberta. Era a antiga sala de Sayuri.
Ao entrar, encontrou arquivos empilhados e uma moldura rachada com uma foto antiga: Sayuri ao lado de Aiko, ambas sorrindo, com jalecos brancos. A legenda dizia:
“Projeto Vigília – Fase 1: A Sensibilidade à Entidade”.
Yumi sentiu um arrepio subir pela espinha. A chave da próxima ala estava presa na parte de trás da moldura, envolta em uma fita vermelha com inscrições em latim.
Ela a pegou. Ao fazê-lo, ouviu uma risada — baixa, infantil, vindo do fundo da sala. Virou-se bruscamente, mas não havia ninguém.
Atravessando o corredor, destrancou a porta para o segundo andar. O ar mudou.
Havia marcas nas paredes. Unhas. Sangue. Gritos abafados. Os leitos estavam virados, e restos de pacientes jaziam ali há anos. Um prontuário sobre uma mesa revelou um nome:
“Paciente 07 – Aiko”
Idade registrada: 13
Condição: “Estável, mas fora do tempo”
Observação: “Ela não envelhece. E o soro da Entidade só intensifica o efeito. Continua vendo ‘a criança no poço’. Está isolada para evitar rupturas.”
Yumi caiu de joelhos. Aiko estava viva. Mas presa.
No terceiro andar, tudo era ainda mais silencioso. Um único letreiro iluminado dizia: “Setor Psiquiátrico de Testes Comportamentais e Influência Dimensional – Entrada Autorizada apenas para S. Y.”
Ao entrar, viu celas acolchoadas, dispositivos de contenção, e no centro, um grande espelho falso. Do outro lado, uma menina com trajes escolares — Aiko, com 13 anos — parada, encarando o vazio.
O tempo lá dentro não fluía.
Ela não reagia. Como uma boneca deixada no esquecimento.
Yumi tocou o vidro e murmurou:
— “Aiko… eu vou tirar você daí.”
Mas antes que pudesse pensar em como fazê-lo, uma voz ressoou nas paredes. Fraca. Raspada. Antiga.
“Vocês traíram a entidade… E agora ela se alimenta da fraqueza que restou.”
Imagens invadiram a mente de Yumi: aldeões desesperados após a queda de Yukigakure, realizando rituais proibidos, oferecendo os mais fracos em troca de alimento e proteção. Era o preço pela traição.
Uma criança caída em um poço, chorando por ajuda, era ignorada. Quando morreu, algo emergiu no lugar dela — algo que sorria. Desde então, ninguém mais dormia em paz.
As paredes do hospital começaram a se transformar. Não eram mais de concreto, mas de carne pulsante, viva. E, lá no fundo, uma porta feita de ossos se revelava… levando ao quarto andar.
Mas para abrir essa porta, Yumi precisaria mais do que uma chave.
Ela precisaria aceitar que Sayuri nunca foi apenas uma amiga. E que o laço entre ela e Aiko era o fio que unia toda a loucura daquela vila corrompida pelo tempo.
II. O Descer das Máquinas
4º Andar – O Salão das Máquinas
A porta de ossos rangeu ao se abrir. O ambiente era tomado por um zumbido constante. Luzes fracas piscavam, revelando fileiras de cápsulas de vidro, conectadas por tubos pulsantes como artérias. Dentro de cada cápsula, seres deformados, alguns com restos humanos, outros irreconhecíveis. Respiravam. Estavam vivos.
Um visor mostrava nomes: “Kazuki”, “Miyako”, “Paciente 23B”. Cada um havia sido um aldeão. Agora, eram só experimentos.
Yumi se aproximou de um painel e o ativou. Uma gravação começou:
“Teste de conversão estrutural falhou. O hospedeiro não aceita o fragmento da Entidade. Nova tentativa em 48 horas.”
Uma das criaturas dentro da cápsula abriu os olhos. Olhos humanos.
— “Aiko…?”
Yumi recuou. Não era sua irmã, mas um ser que havia sido forçado a ver através dos olhos dela.
A porta seguinte se abriu por conta própria.
III. O Corredor das Camas
No 5º andar, o cheiro de ferro dominava o ar. Havia oito camas enfileiradas, todas cobertas por lençóis encharcados de sangue seco.
Yumi se aproximou de uma. Retirou o tecido. Um corpo despedaçado estava ali — mas ainda movia os olhos. E murmurava.
— “Acordar… acordar…”
As paredes sussurravam nomes. Vozes de crianças, de adultos, de idosos.
— “Eles nos cortaram… costuraram… e não deixaram morrer…”
Ela se afastou, horrorizada, mas os corpos nas camas começaram a se contorcer. Um deles tentou levantar, embora faltassem-lhe pernas.
As luzes falharam. Quando retornaram, todas as camas estavam vazias.
Yumi correu.
IV. Gritos Eternos
O 6º andar era como um labirinto de metal. Paredes cobertas por esponjas acústicas, mas o que elas tentavam esconder era impossível de abafar: gritos.
Salas trancadas, pequenas janelas quadradas. Dentro, pessoas ainda gritavam.
Mas algo estava errado — o som dos gritos rasgava o ar. As vozes gritavam com tanta força que as gargantas explodiam, mas logo eram restauradas por máquinas, costurando suas bocas para o próximo ciclo.
Yumi passou por uma porta semiaberta. Lá dentro, uma mulher com cabelo desgrenhado olhou diretamente para ela.
— “Não se ouve a Entidade. Ela grita por dentro. Você vai ouvi-la também.”
A mulher sorriu, e seus dentes eram pregos cravados nas gengivas.
V. O Andar dos Olhos
O 7º andar estava escuro. A única iluminação vinha de olhos humanos implantados nas paredes, piscando, seguindo os passos de Yumi.
Cada olho sussurrava memórias.
— “Ela fugiu da vila…”
— “Sayuri sabia demais…”
— “A criança do poço é o começo do fim…”
Uma porta se abriu sozinha. Dentro, havia uma poltrona com um corpo amarrado. Era Sayuri?
Não. Apenas uma réplica — uma casca com lembranças implantadas. A entidade havia começado a replicar pessoas… Mas por quê?