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- O Mundo Sombrio que Traz o Fim da Esperança (Novel)
- Capítulo 10 - O Reflexo do Sacrifício
Yumi caminhava entre árvores que não lançavam sombras. A névoa parecia mais densa, como se a observasse.
Ela ainda ouvia aquela voz ecoando:
“Quando ela lembrar, o selo vai ruir.”
Naquela noite, ela sonhara com seu próprio corpo sendo oferecido em sacrifício. Havia sangue. Havia gelo. Vozes cantando em um idioma esquecido. Mas agora, algo dentro dela dizia: aquilo não era dela.
Era da Aiko.
Ela viu, com clareza: a menina da aldeia com olhos vazios. O símbolo da chave em sua testa. O mesmo símbolo tatuado agora sobre a cicatriz em seu ombro.
Ela não tinha sido morta.
Ela tinha sido marcada.
E a lembrança da morte… era uma herança de dor passada pela irmã. Um fragmento distorcido por algo que manipulava o tempo e a verdade dentro da cidade.
Ao explorar a antiga torre de vigia da vila, Yumi encontrou documentos empilhados, cobertos de fungo e gelo. Eram estudos de cientistas que estiveram ali antes do colapso da cidade.
Entre as folhas havia uma palavra repetida com frequência:
“Vírus Yūgen.”
Um patógeno atmosférico que afeta apenas certas mentes.
Distúrbios temporais severos.
Alucinações cíclicas.
Memórias cruzadas entre indivíduos ligados por sangue…
Imunidade absoluta registrada em apenas um caso: Yumi Arakawa.
Ela recuou. Aquilo… era um experimento?
“Não.”
Uma voz surgiu atrás dela. Era a menina aldeã — ou Aiko?
— Você é imune porque foi escolhida. Ele não consegue entrar em você… ainda.
— O vírus não é só um patógeno. É o resíduo dele. Do Ser que habita Yukigakure.
Yumi caiu de joelhos.
A cidade estava doente.
O tempo estava doente.
Ela era o remédio… ou o último elo da infecção.
Na floresta, Takeshi também começava a lembrar. Do dia em que conheceu Aiko, ainda criança. De como ela olhava para os espelhos com medo… mas também com atração.
Ela havia dito uma vez:
— O tempo aqui dói. Eu não sei quando estou.
Agora, ele compreendia. A vila de Yukigakure não seguia o tempo. Ela repetia. Absorvia. Distilava.
E o Ser no centro dela, alimentava-se disso.