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Informações sobre o romance

Capítulo 1 – O Caso de Hitaike Kurame

O ruído constante de um velho ventilador oscilava entre a monotonia e a irritação. Luzes fluorescentes tremeluzentes lançavam sombras angulosas pelas paredes cinzentas da sala de reuniões da Divisão de Investigação. Ali, cercada por colegas e um ar denso de cansaço, a detetive Yumi estava sentada em uma cadeira de couro gasta, os olhos semicerrados pela exaustão.

Ela havia sido chamada em pleno dia de folga — algo que a irritava profundamente. Com os braços cruzados e a postura largada, exalava indiferença, mas por dentro sua mente estava sempre alerta.

“Detetive… Detetive Yumi! Você está me ouvindo?”

A voz cortou sua linha de pensamentos como uma lâmina. Ela coçou a orelha e soltou um suspiro.

“Ha… Desculpa. Tá difícil me manter acordada. Hoje era meu único dia de folga…”

O informante engoliu seco. “Sentimos muito, detetive, mas não tivemos escolha.”

“Sim, sim, pare de pedir desculpas e vá direto ao ponto.” — disse ela, erguendo uma sobrancelha com impaciência.

O homem pigarreou e hesitou. “Desculpe, mas…”

“Ei! O que eu acabei de dizer sobre desculpas?”

Um riso abafado ecoou do fundo da sala. Era Marcos, um dos investigadores mais eficientes do departamento, mas também o mais irritante aos olhos de Yumi.

“Calma, Yumi. Não precisamos começar o dia assim. O caso de hoje é diferente de tudo que você já viu.”

Ela se levantou num estalo, os olhos faiscando. “Quantas vezes eu já disse pra não me chamar assim? Tá querendo arrumar briga comigo, Marcos?!”

Antes que a tensão explodisse, uma voz firme e grave reverberou pela sala.

“Basta.”

Todos se calaram. A figura imponente do chefe do departamento, um homem de terno escuro, cicatriz discreta no maxilar e olhos fundos, atravessou a porta. Sua presença cortava o ar.

“Detetive Yumi. Marcos. Estamos diante de uma situação extremamente delicada. Não é momento para infantilidades.”

Yumi resmungou, mas se sentou. Marcos apenas deu de ombros.

O chefe caminhou até o centro da sala, depositando um dossiê surrado sobre a mesa.

“O caso envolve a cidade velha de Hitaike Kurame. Recebemos denúncias perturbadoras. Desaparecimentos sem rastros. O número de vítimas já passa de doze — homens, mulheres, crianças. Nenhum corpo foi encontrado. Nenhum vestígio.”

Os murmúrios cessaram. O ar ficou mais pesado.

“Essa cidade… Não está em nenhum mapa atual. Parece ter sido excluída de registros oficiais. E o mais inquietante: os desaparecidos relatam visões antes de sumirem. Vozes sussurrando da névoa. Um nome repetido em várias cartas deixadas para trás: Yukigakure.”

Yumi arregalou os olhos. Esse nome lhe era familiar, mas não sabia de onde.

“Queremos que você lidera esse caso, Detetive Yumi. Sua experiência com o inexplicável pode nos dar uma vantagem.”

Ela permaneceu em silêncio. Um frio percorreu sua espinha.

Algo naquela cidade — ou naquilo que restava dela — chamava por ela.

E no fundo, uma lembrança esquecida começava a emergir das sombras.


 

I. A Chegada em Yukigakure

A neve caía silenciosamente, cobrindo as casas antigas com uma camada espessa e branca. A estrada que levava até Yukigakure era estreita, sinuosa, e envolta por árvores retorcidas que pareciam cochichar entre si.

Yumi segurava firme o volante do carro enquanto atravessava o túnel escuro que marcava a entrada da vila. A placa enferrujada com o nome “Yukigakure” balançava ao vento, quase como um aviso.

Ela não voltava ali desde o desaparecimento da irmã, Aiko, há mais de cinco anos. Após tanto tempo em Tóquio, servindo como detetive criminal, Yumi decidiu atender ao chamado estranho que recebera: uma carta, sem remetente, contendo apenas a frase:

“Ela ainda está aqui. Descubra a verdade antes que eles te encontrem.”

Ao pisar na neve congelada da vila, sentiu um arrepio que não vinha do frio.


 

II. O Silêncio dos Moradores

Yukigakure parecia parada no tempo. As casas mantinham uma arquitetura dos anos 40, e os poucos moradores caminhavam cabisbaixos, como se o peso do passado os mantivesse curvados.

Yumi foi recebida com olhares desconfiados. Na pensão onde se hospedou, a dona — uma senhora idosa chamada Sra. Hana — entregou-lhe a chave com mãos trêmulas.

— Você devia ir embora antes da próxima lua cheia, moça… — sussurrou.

Yumi tentou fazer perguntas sobre sua irmã, mas a Sra. Hana desviava o olhar sempre que o nome “Aiko” era mencionado. Era como se falar dela fosse invocar algo proibido.

Naquela noite, Yumi ouviu passos no andar de cima. Mas… ela era a única hóspede da pensão.


 

III. O Relatório Perdido

Na antiga delegacia da vila, agora quase em ruínas, Yumi vasculhou arquivos em busca de pistas sobre os desaparecidos. Os registros eram escassos — parecia que alguém havia retirado muitos documentos deliberadamente.

Mas em uma gaveta escondida, encontrou algo que não deveria estar ali: um relatório antigo com o nome da sua irmã na capa. Aiko era listada como voluntária em um “Projeto Neblina”, supostamente voltado para pesquisa ambiental.

Contudo, nos detalhes técnicos, havia referências a testes com patógenos e comportamento humano. E o mais perturbador: uma seção inteira estava rasgada, com apenas a frase final visível:

“O experimento falhou. Eles… acordaram.”


 

IV. A Garota do Poço

Enquanto explorava os arredores da vila, Yumi encontrou uma menina solitária cantando perto de um poço coberto. Quando se aproximou, a garota parou de cantar e apontou para o fundo.

— Eles estão lá embaixo. Presos… mas sonhando.

O poço estava lacrado com placas de ferro enferrujadas. Gravado nelas, um símbolo: um círculo com três olhos. O mesmo símbolo aparecia nos papéis do relatório da irmã.

Ao olhar mais de perto, Yumi ouviu uma voz. Não era da garota. Era… Aiko.

— Me tira daqui…

Quando piscou, a menina havia desaparecido.


 

V. O Diário de Aiko

De volta à pensão, determinada a encontrar mais pistas, Yumi revirou seus pertences antigos, deixados para trás na última visita à vila. E ali, escondido dentro de um livro falso, estava o diário de Aiko.

As páginas estavam manchadas de tinta e medo. Aiko escrevia sobre alucinações, vozes nas paredes, e a sensação de ser vigiada por “olhos sem rosto”.

No último trecho legível, lia-se:

“Eles disseram que a vila é uma prisão… e nós, os guardas. Mas esqueceram de nos avisar que as celas estavam trincadas.”

Yumi sabia agora que o mistério era maior do que um desaparecimento. Era algo antigo, profundo, e vivo.


 

VI. Vozes na Névoa

A névoa cobriu Yukigakure com uma densidade sufocante. Diziam que, quando a neblina era espessa, as vozes do passado voltavam para chamar os vivos.

Yumi acordou ouvindo sussurros vindos do rádio da delegacia abandonada. A transmissão era confusa, mas uma frase se repetia:

“Yuki… gakure… eles observam…”

O capitão da polícia da vila havia desaparecido naquela madrugada, e a última localização dele era perto das Montanhas Kaibutsu — uma área restrita desde um acidente químico há 20 anos.

Seguindo as coordenadas deixadas na gravação, Yumi atravessou a floresta gelada, até encontrar os restos de um laboratório escondido entre as rochas. A entrada estava lacrada com correntes e o mesmo símbolo dos “três olhos”.

Ela entrou.


 

VII. A Caverna dos Sussurros

O laboratório estava em ruínas, tomado por raízes negras que se moviam lentamente pelas paredes. Yumi desceu por um corredor estreito, iluminando com a lanterna as palavras riscadas nas paredes:

“Eles se alimentam do medo. Não pense neles.”

Mais adiante, uma sala circular. No centro, um altar de pedra. E ao redor, dezenas de máscaras penduradas — feitas de ossos, pele e metal.

Yumi reconheceu uma delas. Era a que Aiko usava no festival de inverno, pouco antes de sumir.

De repente, um som.

Atrás dela, uma respiração. Forte, lenta… inumana.

Yumi virou-se, e a lanterna falhou.

O escuro a engoliu — e com ele, as vozes começaram a sussurrar seu nome.


 

VIII. O Selo Quebrado

A escuridão apertava em volta de Yumi, mas ela seguiu, guiada apenas por memórias e coragem. Cada passo ecoava como um grito abafado nas paredes do laboratório esquecido.

Lá no fundo, entre destroços e marcas de luta, encontrou um espelho trincado com símbolos arcaicos em suas bordas. Assim que se aproximou, uma luz tênue iluminou seu rosto — e o reflexo não era o seu.

Era Aiko.

Presa, com os olhos vítreos e a pele pálida como porcelana rachada, Aiko sussurrou:

— Yumi… o selo foi quebrado… eles estão vindo…

Com a mão no vidro, Yumi sentiu o calor da alma da irmã. Mas também sentiu algo frio… algo que tentava puxá-la para o outro lado.


 

IX. A Entidade Sem Nome

De dentro do espelho, algo se contorcia na sombra — uma presença antiga, formada por fragmentos de medo e memórias corrompidas.

Aiko gritou:

— Corra!

Mas era tarde demais. O espelho explodiu em fragmentos negros, e a entidade se libertou. Uma massa de névoa viva, com rostos humanos se contorcendo em sua forma amorfa.

Yumi correu pelos corredores enquanto a estrutura do laboratório desabava. Gritos ecoavam, não apenas os dela, mas de centenas de vozes — antigas vítimas de Yukigakure.

Ela escapou por um buraco na parede, com a pele marcada pelas sombras do outro mundo.


 

X. Revelações na Neve

De volta à superfície, Yumi caiu de joelhos na neve. A vila estava mergulhada num silêncio sepulcral. Não havia moradores, nem som, nem vento. Apenas uma névoa espessa — viva, pulsante.

Ao se aproximar da praça central, viu os corpos dos desaparecidos… em pé. Como bonecos, imóveis, os olhos opacos e a pele pálida. Um deles era o capitão da polícia.

E entre eles, Aiko.

Mas agora ela sorria… e sussurrou:

— Eu os trouxe até você, Yumi. Só falta você aceitar…


 

XI. Coração da Vila

Yumi foi levada à antiga cripta no centro de Yukigakure, guiada pelos “despertos”. No altar central, uma esfera negra pulsava como um coração maligno.

Era o “Olho de Yukigakure”, a origem da maldição. Segundo Aiko, ele foi criado por ancestrais para aprisionar a entidade que agora vagava livremente.

— Alguém precisa assumir o papel de novo selo, disse Aiko. Ou a vila devorará o mundo.

Yumi então entendeu: sua irmã havia se sacrificado para manter o mal contido. Mas agora a prisão estava rachada, e apenas um novo elo poderia conter o horror.


 

XII. O Último Sacrifício

Com lágrimas nos olhos, Yumi se aproximou do altar. Aiko segurou sua mão uma última vez.

— Você é forte. Mais do que eu jamais fui. Mas, se fizer isso, não poderá voltar.

Yumi sorriu, mesmo com o medo consumindo cada parte de seu ser.

— Então me prometa… que viverá por nós duas.

Ela tocou o Olho de Yukigakure.

Um clarão envolveu a vila. A névoa foi sugada para o altar. Os corpos desfaleceram, livres. A vila adormeceu. E Yumi… desapareceu.


 

A Carta

Meses depois, um explorador encontrou uma carta enterrada sob o altar de pedra.

“Se alguém encontrar isto, saiba que a vila está segura por agora. Mas o mal nunca desaparece por completo — ele apenas dorme.

Meu nome é Yumi. E eu sou o selo que impede o fim da esperança.”

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